Arritmias Cardíacas e suas Possíveis Abordagens

Dra. Denise Hachul, Cardiologia

Publicado em 25/09/2017 - Atualizado em 01/05/2024



Inúmeras são as situações nas quais ocorrem variações na frequência e na regularidade do ritmo cardíaco. Essas situações incluem condições normais (ou fisiológicas), como acelerações provocadas por emoções ou exercícios e desacelerações provocadas pelo sono ou relaxamento. 

Arritmias são distúrbios do ritmo e/ou da frequência cardíaca provocados por doenças do músculo cardíaco ou anormalidades do sistema de condução elétrico do coração e podem ser originadas nos átrios ou nos ventrículos.

Entre as doenças do músculo cardíaco que desencadeiam arritmias, podemos citar as miocardites (inflamações causadas por agentes infecciosos ou por autoimunidade), dilatações do coração, doenças hereditárias, doenças degenerativas do envelhecimento, entre outras.  

A afecção que mais frequentemente causa arritmias ventriculares é o Infarto do Miocárdio e a arritmia mais frequente na população é a Fibrilação Atrial, originada nos átrios e causada especialmente por alterações degenerativas próprias da idade.

ARRITMIAS VENTRICULARES

No infarto do miocárdio,  o músculo de uma determinada área dos ventrículos entra em sofrimento e é substituído por cicatriz, devido à morte de células causada pela falta de oxigênio.

A falta de oxigênio, por sua vez,  é provocada por obstruções das artérias coronárias por placas de gordura, cálcio e coágulos sanguíneos, que impedem a passagem de sangue para aquela região.

O sofrimento celular e a cicatriz que se forma, entremeada  no músculo cardíaco normal, causa heterogeneidade na condução do impulso elétrico,  que difunde-se de forma irregular,  deflagrando as arritmias. Essas arritmias ventriculares, quando ocorrem em corações seriamente afetados, relacionam-se a alto risco de morte súbita.

Miocardites causam arritmias por alterações celulares provocadas pela própria inflamação e/ou pela formação de cicatrizes focais e, as doenças hereditárias, por alterações estruturais ou da função das membranas celulares geneticamente determinadas. 

Essas áreas comprometidas desencadeiam batimentos fora do compasso, que podem ser isolados (extrassístoles), em salvas, autolimitados (taquicardias não sustentadas)ou persistentes (taquicardias sustentadas).  

ARRITMIAS  SUPRAVENTRICULARES

As doenças do sistema de condução que provocam acelerações da frequência cardíaca (taquicardias) são na sua maioria congênitas e, algumas vezes, geneticamente determinadas.

Indivíduos portadores dessas arritmias nascem com feixes elétricos adicionais, que se formam no período do desenvolvimento embrionário do coração. Esses feixes anormais localizam-se entre os átrios e os ventrículos, gerando verdadeiros “curtos-circuitos” e provocando taquicardias em situações variadas e de forma aleatória, como é o caso da Síndrome de Wolff Parkinson White e da Dupla Via de Condução do Nó Átrio-Ventricular.

O envelhecimento associado a fatores hereditários, à hipertensão arterial, apneia do sono, Diabetes Mellitus e obesidade, são as principais causas da Fibrilação Atrial, arritmia caótica, na qual os átrios perdem a eficiência da sua contração.

O sangue, então, movimenta-se lentamente dentro dos átrios, favorecendo a coagulação. Esses coágulos podem desprender-se e, dentro da corrente sanguínea, causar entupimento de artérias em qualquer área do organismo.

A mais grave consequência da fibrilação atrial é o Acidente Vascular Cerebral, ou Derrame Cerebral, que ocorre quando um coágulo obstrui a passagem de sangue para uma determinada região do cérebro.

TRATAMENTO DAS ARRITMIAS

Até os anos 70, o tratamento das arritmias cardíacas resumia-se ao uso de medicamentos que controlavam a frequência cardíaca e a medicamentos antiarrítmicos específicos. Os antiarrítmicos, embora eficientes em muitos casos, provocam inúmeros efeitos colaterais, sendo o mais grave, o efeito pró-arrítmico (provocam outras arritmias), por agirem diretamente nas propriedades elétricas das células do coração.  

As arritmias provocadas pelos medicamentos antiarrítmicos, às vezes são mais graves do que aquelas que com eles tentamos tratar. Porisso devem ser prescritos e controlados por médicos especialistas.

TRATAMENTO CIRÚRGICO

No início dos anos 80, foram realizadas as primeiras cirurgias com o objetivo de controlar arritmias cardíacas.  Essas cirurgias consistiam na ressecção cicatrizes de infartos para homogeneização da condução elétrica do músculo cardíaco, mas as técnicas ainda eram muito rudimentares.

Foram então desenvolvidos métodos de mapeamento elétrico intra-operatório, para localização e posterior ressecção ou homogeneização de cicatrizes, dos focos de arritmias e de circuitos elétricos anormais.

A eliminação dos focos e circuitos era feita por meio de incisões com bisturi e essas cirurgias eram realizadas com tórax aberto.  A recuperação do paciente era longa e o tempo de internação prolongado.

Por esse motivo, as cirurgias eram indicadas em situações especiais: quando havia alto risco de morte e em casos seletos com comprometimento da qualidade de vida ou disfunções musculares severas secundárias à aceleração persistente do coração, por falha do tratamento medicamentoso.

ABLAÇÃO POR CATETER

Em meados e final da década de 80, as técnicas de mapeamento e cauterização de focos de arritmias foram aprimoradas rapidamente, graças ao grande desenvolvimento tecnológico.

Passaram a ser realizadas com cateteres especiais, introduzidos por veias da virilha e movidos até o coração através das veias, guiados pelo Raio X, sem necessidade de abertura do tórax. Por meio dos cateteres, realizava-se o mapeamento do coração, a localização dos focos e a cauterização da área comprometida.

O tempo de internação hospitalar foi abreviado e a recuperação do paciente tornou-se muito mais rápida.

Inicialmente, essas cauterizações eram mais extensas, mais difusas e menos precisas, por serem realizadas com um tipo de energia denominada Eletro-fulguração.

Posteriormente, nos anos 90, as cauterizações passaram a ser mais circunscritas, quando a energia de Radiofrequência passou a ser utilizada.

O desenvolvimento tecnológico criou métodos de mapeamentos eletroanatômicos, tridimensionais, coloridos, que além de identificarem mais precisamente as áreas responsáveis pela origem da arritmia, diminuíram significativamente  o tempo de exposição do paciente e do médico ao Raio X.

Mais recentemente, surgiu o método de ablação por congelamento, a chamada Crioablação, que produz áreas de cauterizações mais bem delimitadas, mais homogêneas e ainda mais circunscritas.

A Ablação por Cateter é o método de escolha, indicado como primeira opção nas Diretrizes de Conduta Internacionais para o tratamento de vários tipos de arritmias, como a síndrome de Wolff Parkinson White, a Taquicardia por Dupla Via Nodal, o Flutter Atrial e alguns tipos específicos de Fibrilação Atrial, Taquicardia Atrial e Taquicardia Ventricular.

Em outras situações, a Ablação por Cateter, mesmo que não cure definitivamente, permite o controle de arritmias antes refratárias ao uso de antiarrítmicos.  É o caso de alguns tipos de Fibrilação Atrial e de Taquicardias Ventriculares, entre outras. 

Assim, a ablação por cateter pode não só eliminar definitivamente determinados tipos de arritmias, mas também auxiliar no seu controle e contribuir para melhora da qualidade de vida de pacientes acometidos por esse tipo de enfermidade.

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