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A obesidade é um dos mais perigosos e sorrateiros males que assolam a sociedade moderna. Depois de ser tratado com seriedade nos EUA, com implementação de políticas públicas mais severas na conscientização e educação das família, os números brasileiros passaram a aumentar de forma preocupante.
Depois de registrar em 2006 que 11,8% da população se encaixava no quadro de obesidade, o Brasil teve um crescimento de 67,8% em 12 anos, registrando em 2018 a marca de 19,8%, de acordo com pesquisa feita pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada pelo Ministério da Saúde em julho deste ano.
Para combater o mal, reeducação alimentar e atividades físicas encabeçam as opções mais eficazes. As modalidades de esportes de luta se tornaram febre para combater o excesso de peso, e outra vertente se tornou comum: os praticantes que tomaram o esporte como profissão. Atletas de jiu-jitsu, muay thai, judô e noxe são comuns em buscar uma experiência além das suas modalidades, se testando também nas artes marciais mistas, ou mixed martial arts (MMA). E por vezes a migração é definitiva.
Três atletas profissionais de MMA descreveram suas experiências com o esporte, primeiro na busca de combater a obesidade, e que posteriormente se tornariam seu trabalho, como foram os casos de Matheus Scheffel, Augusto Abdias e Heloísa Azevedo, todos representantes do Future MMA, organização brasileira que mais exporta lutadores brasileiros para companhias internacionais, como o Ultimate Fighting Championship (UFC).
O curitibano Matheus Scheffel, conhecido como Matheus "Buffa" no MMA, tem 26 anos e já era obeso aos 12 anos. Começou a treinar muay thai para emagrecer, mas sem corrigir a alimentação os resultados não vieram. Após sentir dores no peito e passar por duas cirurgias no coração, resolveu aliar os treinos com uma dieta rigorosa. Matheus reduziu 32kg, estudou Educação Física e hoje é postulante ao cinturão meio-pesado (até 93kg) do Future MMA, título que disputa no dia 19 de outubro, em São Paulo.
"Cheguei a pesar 122kg", relembra Matheus. "Precisei fazer dois cateterismos e demorei 6 meses para poder voltar a treinar. Na volta, fiz dieta, emagreci e ganhei três títulos brasileiros de muay thai antes de migrar para o MMA. Todo obeso que diz que está feliz, que não quer emagrecer, está mentindo. Eu estive nos dois lados, fui obeso e hoje sou um atleta profissional."
Outro caso parecido foi o da fluminense Heloísa Azevedo, de 28 anos. Ela já praticava esportes por volta dos 15 anos, e pesava pouco mais de 50kg. Ao chegar na fase adulta, com 19 anos, problemas de ansiedade e depressão a fizeram saltar dos 50 para os 90kg, já que sua válvula de escape das pressões do dia a dia eram direcionadas em uma alimentação descontrolada. Nessa fase, Heloísa buscou o boxe para tentar emagrecer, mas sem a reeducação alimentar nada surtia efeito.
"Minha irmã viu a estreia da Amanda Nunes (campeã do UFC) e me sugeriu treinar rumo ao MMA", disse Heloísa. "Fiquei com aquilo na cabeça e comecei a me regrar: fiz dieta e intensifiquei os treinos. Fazia cinco treinos por dia e perdi 38kg. Minha estreia foi com 66kg, depois passei a atuar na minha categoria. Minha estreia no Future foi com 55kg, depois passei para os pesos-palhas, 52kg. Nunca imaginei que chegaria a bater 52kg na minha vida, e para mim isso foi uma grande vitória. Não falo pela questão estética, e sim pela saúde. Sentia muita dor nas costas, minhas pernas ficavam inchadas. As pessoas têm que pensar sobre isso. Não é por estar acima do peso que você deve aceita e relaxar. Várias doenças podem te acometer por causa da obesidade."
O caso mais grave, porém, foi do atleta potiguar Augusto Abdias, de 26 anos. Aos 15 anos, com a morte do pai, entrou em depressão e passou a comer sem restrições e ingerir bebidas alcoólicas compulsivamente. Chegou a pesar mais de 140kg aos 18 anos de idade. Foi diagnosticado com gordura no fígado, caminhava para a diabetes e se tornou refém de remédios para controlar a pressão arterial.
"Eu fazia o ensino médio pela manhã e chegava lá ainda em enfeito de álcool", lamentou Augusto. "Não rendia em nada, perdi o ano letivo. Experimentei algumas substâncias ilícitas no meio do caminho, mas o meu real vício era o álcool. Com 18 anos, e 140kg, estava pré-diabético e não teria muitos anos pela frente, apesar de ainda ser muito novo. Decidi mudar radicalmente, lembrei do meu amor por esportes de luta e voltei a praticar muay thai. Em um período de oito meses de reeducação alimentar e atividades físicas, cheguei aos 85kg, comecei a treinar MMA e segui carreira no esporte. Em 2015 fiz a minha estreia no MMA e estou até hoje", completou o lutador, que hoje é postulante ao cinturão peso leve (até 70kg) do Future MMA.