Reposição de testosterona: A fonte de juventude revelada?
Com o aumento da expectativa média de vida e a valorização da conquista e manutenção de uma atividade sexual satisfatória, os homens têm enfrentado conflitos durante o processo natural de envelhecimento. O desempenho físico, a performance e o apetite sexual, segundo a cultura vigente, podem e devem permanecer no ápice.
A dedicação aos exercícios físicos e à alimentação balanceada muitas vezes não são suficientes para os, cada vez mais exigentes, parâmetros de referência. Assim, o declínio fisiológico antes tolerado e associado à idade acaba frequentemente sendo considerado manifestação de uma doença. É esse o contexto no qual a reposição de testosterona ganhou grande destaque. Cremes, gel, injeções ou implantes. Será que aumentar os níveis de testoterona traz benefícios para todos?
Por muito tempo, o principal hormônio masculino é sinônimo de juventude e virilidade. Seu uso já esteve restrito ao ambiente das academias, época em que muitos temiam seus possíveis efeitos adversos. Era associada à atrofia dos testículos, infertilidade e doenças no fígado. Hoje, o uso da testosterona se popularizou de forma notável. A maior circulação da informação alardeando benefícios, a ampliação do acesso aos serviços de saúde, as dosagens hormonais realizadas com maior frequência, o óbvio interesse da indústria farmacêutica na promoção de seus produtos, a maior oferta de medicamentos capazes de elevar níveis hormonais, o significativo aumento dos profissionais prescritores e os avanços no conhecimento específico na área com novos estudos científicos demonstrando eficácia e segurança em sua administração, são fatores que ajudaram na multiplicação das receitas com testosterona ou percursores.
Mas será que todos que usam hormônios realmente precisam? E aqueles que necessitam, fazem a reposição e o acompanhamento da forma correta? Como ocorre nas novidades rapidamente incorporadas, o tempo deverá nos apresentar as melhores respostas. Urge, porém, a desconstrução de certas crenças e mitos que acabam interferindo negativamente no uso saudável dos avanços no conhecimento em saúde. Ora por assustar quem efetivamente merece receber tratamento, ora por incutir a falsa esperança de que todos os problemas serão resolvidos através do aumento da testosterona.
Os níveis de TESTOSTERONA variam com a idade, com o peso, com a circunferência abdominal, com o tempo e qualidade do sono, com o metabolismo individual e com vários outros fatores. Após os 40 anos há um declínio gradual que é considerado fisiológico, ou seja, parte natural do envelhecimento masculino. Portanto, cada indivíduo tem uma certa quantidade de hormônio circulante. O que é considerado baixo para um pode ser absolutamente adequado para outro. A simples comparação com valores de referência disponibilizados em exames laboratoriais não permite nenhum diagnóstico conclusivo e não deve motivar a medicalização;
1. Quem mantém hábitos de vida saudáveis, exercitando-se regularmente, alimentando-se de forma inteligente, controlando o peso, dormindo bem e cultivando uma vida social tem maior chance de manter seus níveis hormonais equilibrados. Portanto, se você quer manter-se saudável aos 80 anos comece agora a cuidar do seu corpo. Reserve pelo menos 40 minutos do seu dia para atividade física aeróbica. Pense na hora de fazer seu prato de comida e valorize um boa noite de sono. Dessa forma simples e saudável, você conseguirá conservar sua produção hormonal e sua ação androgênica (efeito da testosterona) e provavelmente nunca necessitará de reposição;
2. Mais testosterona não significa maior potência sexual! Nenhum estudo robusto demonstrou que, quem tem maior quantidade de testosterona circulante tem mais libido ou demonstra melhor desempenho sexual. A interação da testosterona com seus receptores celulares deflagra uma ação que varia de indivíduo para indivíduo. Chamamos isso de sensibilidade androgênica. É sabido, por exemplo, que nos indivíduos da raça negra, a ação androgênica é maior. Portanto, o valor numérico da testosterona não deve ser considerado isoladamente. Ele é apenas um dado que entra num conjunto de variáveis para a individualização da conduta;
3. A dosagem da testosterona TOTAL quando solicitada deve ser feita pela manhã, entre 7 e 10 horas. Quando considerada baixa, ela deve ser repetida em conjunto com outros exames para assim permitir ao profissional de saúde o entendimento da possível causa da deficiência hormonal e a identificação da possível interferência de outros hormônios no quadro apresentado. O conhecimento de valores prévios da testosterona esclarece se houve efetivamente uma queda ou se as taxas já eram essas anteriormente;
4. A testosterona não causa câncer da próstata. Na verdade, a idade de maior prevalência desse tipo de câncer coincide com um momento de menores taxas do hormônio no organismo do homem (50-70 anos). Todavia, é recomendada a avaliação da saúde prostática para homens com mais de 40 anos que estejam considerando a possibilidade de interferir nos níveis de testosterona. Afinal, a suspeita ou o diagnóstico de câncer da próstata constitui contraindicação absoluta para o aumento dos níveis desse hormônio;
5. A reposição hormonal masculina bem indicada respeita três regras básicas e consiste na situação em que o homem apresenta, em duas dosagens laboratoriais, níveis de testosterona total realmente baixos. Afinal o termo reposição significa recuperar níveis fisiológicos. Além disso, há ainda a necessidade de que o paciente manifeste queixas, ou seja, que existam sinais e sintomas que possam ser associados à essa queda hormonal. Quem não tem nenhuma queixa e está com saúde perfeita não precisa de remédio. E finalmente, ainda é necessário que não existam contraindicações formais para a reposição. Como citado, a suspeita ou o diagnóstico de câncer da próstata ou de mama no homem impede a reposição do hormônio, pois irá acelerar a progressão dessas doenças. Outras possíveis contraindicações: Policitemia (excesso de hemácias), hipertensão não controlada, enxaqueca, epilepsia, hiperplasia da próstata sintomática e apneia obstrutiva do sono.
6. Quando o homem inicia a reposição hormonal, deve aproveitar o estímulo androgênico para a adoção de hábitos mais saudáveis. Lembre-se que o aumento dos níveis de testosterona vai gerar benefícios que serão percebidos de forma gradual. A prática regular de exercícios, a alimentação equilibrada, o controle do peso e o sono de boa qualidade aceleram esse processo. Existe uma cronologia na melhora dos sintomas e por isso é necessário paciência e persistência. A libido costuma melhorar em semanas, o cansaço e a força muscular em meses, mas a mineralização óssea (osteoporose) exige anos de tratamento. Não desanime!
Quem faz reposição precisa realizar os exames periódicos com intervalos regulares e definidos pelo profissional e saúde. Além de verificar a melhora clínica (alívio das queixas que motivaram a reposição) é importante checar e descartar possíveis complicações como: aumento excessivo do hematócrito, elevação exagerada dos níveis do PSA (antígeno prostático específico), aumento da pressão arterial, piora da qualidade do sono, entre outras.
Portanto, não desapareça do consultório!