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Covid-19 e o atendimento ao paciente com câncer

Uma pesquisa das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica apontou que, desde o início da pandemia de Covid-19, aproximadamente 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer. Mesmo pacientes já diagnosticados com a doença tiveram os tratamentos suspensos. Estima-se ainda que 70% das cirurgias de câncer foram adiadas e de 50 mil a 90 mil pacientes podem ter deixado de fazer a biópsia.

Em boa parte, essa interrupção é motivada pelo receio dos pacientes em se infectarem pelo novo coronavírus ou ainda devido às restrições e isolamento impostos pela pandemia de Covid-19.

Os cuidados para receber pacientes têm sido redobrados em todos os serviços de saúde, públicos ou particulares, em clínicas ou em hospitais. Claro que os pacientes ainda estão receosos em manter o agendamento, e a desinformação tem atrapalhado consequentemente a continuidade dos tratamentos.

Ainda que a telemedicina, com sua autorização ampliada pelo Ministério da Saúde logo no início da pandemia, seja um facilitador de contato, avaliações e de diagnóstico, ela não contempla a todos, sobretudo aos que não têm acesso a recursos online.

Os dados apresentados pelas Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica reforçam a necessidade de conscientização conjunta dos órgãos de saúde competentes, médicos e pacientes. Afinal, mesmo em meio à pandemia, os casos não cessam e o maior problema é a evolução dos tumores, principalmente os malignos.

Há neste contexto dois cenários que merecem atenção. No pior deles, o aumento do número de mortes de pacientes oncológicos, por falta de diagnóstico ou sequência nos tratamentos e cirurgias. No outro, também pelo avanço da doença que, caso seja diagnosticada tardiamente (para depois da pandemia!?), pode tornar o tratamento mais complexo e prejudicar o prognóstico, ou seja, a sobrevida, que hoje pode ser prolongada caso o paciente tenha tratamento eficaz na fase inicial da doença.

Penso que, mesmo em tempos de pandemia e levando-se em conta todos os cuidados necessários que o momento delicado exige, é necessário criar mecanismos de atendimento presencial, que ajudem a reduzir esses riscos. Para além dos que podem ter seus cuidados garantidos por telemedicina. Ainda que de forma híbrida (presencial e online), o que em inglês corresponderia ao termo “blend medicine” ou medicina “misturada”, precisamos garantir que todas as pessoas possam buscar os melhores tratamentos disponíveis para suas enfermidades. Os dados mostram que isso, sim, é essencial nos dias de hoje.

Marcelo Bendhack Mestre e Doutor em Urologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR/1999). Doutor em Uro-Oncologia pela Universidade de Düsseldorf/Alemanha. Especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA).

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