Marcadores para identificar o câncer de próstata

Dr. Marcelo Luiz Bendhack , Urologista

Publicado em 08/11/2023 - Atualizado em 24/04/2024



A cada ano, mais de 9 milhões de pessoas morrem de câncer em todo o mundo, apesar dos avanços contínuos nos tratamentos e terapias reconhecidas. Essa alta mortalidade é certamente favorecida por longos períodos durante os quais os cânceres em estágios tratáveis permanecem ocultos devido à falta de procedimentos diagnósticos apropriados.

Em vários tipos de câncer, o diagnóstico precoce está associado a um aumento significativo na taxa de sobrevida de 5 anos em comparação com a doença metastática, na qual, infelizmente, o câncer é frequentemente diagnosticado.

Biomarcadores

O que cientistas de todo mundo reconhecem é que os biomarcadores sensíveis e específicos para diagnóstico precoce, prognóstico e monitoramento poderiam evitar situações indesejáveis, salvar vidas e reduzir a morbidade e, muitas vezes consequentemente, a mortalidade.

Diagnóstico

De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil, ficando atrás somente do câncer de pele não-melanoma. Mesmo com índices ainda altos, muitos homens postergam ou negligenciam a importância de exames periódicos.

Dados do Ministério da Saúde (MS) apontam que cerca de 60% das mortes por câncer de próstata se concentram entre idosos com mais de 75 anos e 38% entre adultos e idosos de 55 a 74 anos. Essas faixas respondem pela quase totalidade das mortes (98%). Além da idade, alguns outros fatores de risco são o histórico familiar, as alterações genéticas, a obesidade, o sedentarismo e o tabagismo.

Quanto mais cedo a doença é diagnosticada, melhor é o processo de tratamento, e até mesmo de cura. No entanto, cerca de 20 a 30% dos casos são diagnosticados tardiamente. O rastreio do câncer de próstata é simples, através de avaliação clínica, exame de toque retal e exame de PSA - alguns outros exames podem ser solicitados para uma análise mais precisa.

Teste Genético

Preventivamente, também é possível fazer o teste genético, mas a recomendação é que esse recurso seja utilizado apenas para pessoas com risco aumentado para a mutação do gene, como histórico pessoal ou familiar de câncer de próstata avançado em qualquer idade.  O teste genético identificará alterações nos genes BRCA1 e BRCA2, mas como é relativamente raro a maioria dos especialistas concorda que o teste em indivíduos que não têm câncer deve ser realizado apenas quando o histórico individual ou familiar da pessoa sugere a possível presença de uma mutação no gene BRCA1 ou BRCA2.

Marcador Epigenético

Recentemente, foi patenteado um conjunto exclusivo de marcadores epigenéticos para identificar e estratificar o câncer de próstata. Este marcador epigenético, único patenteado no mundo, tem a função de diagnosticar de forma mais precisa e, como objetivo secundário, poderá apresentar prognósticos mais refinados, e assim evitar exames desnecessários.

A pesquisa do marcador epigenético foi validada pela Universidade de Düsseldorf, realizada por cientistas externos que avaliaram às cegas, quando outros cientistas não identificam a origem das amostras. Para que isso se tornasse possível foram providas por três reconhecidos centros internacionais: Roterdã (Holanda), Zurique (Suíça) e Tübingen (Alemanha).

O outro conjunto de marcadores, que examina o tecido fruto da biópsia da próstata, permite identificar – de forma molecular – se o tecido tem o que chamamos de “assinatura epigenética do câncer” ou “de tecido benigno”.

Epigenética

A epigenética é definida como o estudo das modificações do DNA e histonas (tipo de proteína encontrada nos cromossomos), que são herdáveis e não alteram a sequência de bases do DNA. As modificações que as histonas podem sofrer estão associadas à metilação, fosforilação e acetilação. Na molécula de DNA, o grau de metilação influencia a ativação (ou não) da transcrição gênica. Assim podemos ter a ativação e produção de sua proteína correspondente, de genes promotores de tumores (oncogenes) ou de genes supressores de tumores (tumor suppressor genes). Esta função é coordenada junto das regiões promotoras dos genes.

Além deste conjunto de marcadores do câncer da próstata, outro foi descoberto e correlacionado com a idade dos pacientes, pela epigenética, e foi denominado de Epiprotime.

Epigenética e Fatores Externos

Nosso DNA contém aproximadamente 3 trilhões de blocos de construção individuais. Os genes importantes para nossas células são aproximadamente 21.000 e compõem apenas 1,5% desses componentes individuais.

Espalhados por todo o DNA, os seres humanos adquiriram durante a sua evolução várias 100.000 seções prejudiciais semelhantes a genes em todas as células do corpo. Se ativadas, elas interfeririam no uso limpo de nossos genes "bons", atacariam e fragmentariam nosso DNA e afetariam significativamente o funcionamento de nossas células. A consequência seria que milhões e milhões de nossos aproximadamente 3 trilhões de células pereceriam e que um processo de envelhecimento que progride rapidamente e nos estágios finais possivelmente causaria câncer.

Felizmente, a natureza criou um escudo protetor para desligar essas seções prejudiciais dos segmentos de genes semelhantes ao nosso DNA. Esse escudo protetor é um mecanismo epigenético, a metilação do DNA.

No entanto, este mecanismo epigenético e a sua robustez dependem de fatores externos da vida, como a dieta, o tabagismo, o consumo de álcool, as toxinas no trabalho, o estresse e muitos outros fatores interdependentes. Esses fatores e suas combinações particularmente prejudiciais tornam sagrado o escudo protetor epigenético, de modo que essas seções semelhantes a genes prejudiciais sejam ativadas. O resultado é que o processo de envelhecimento está avançando rapidamente e o risco de desenvolver câncer com ameaça à vida está aumentando.

Este marcador, Epiprotime, mostra que o envelhecimento é o fator extremamente importante para o risco de desenvolver muitos tipos de câncer, inclusive como também é para o câncer de próstata.

Pesquisas complementares objetivam identificar fatores adicionais, a partir de DNA livre e que circula no sangue, para auxiliar no diagnóstico e tomada de decisões para o câncer da próstata e da bexiga. O objetivo é adiantar e avaliar com precisão tanto o diagnóstico quando o prognóstico do paciente, através da coleta de sangue.

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